Acreditem, o streaming é mais antigo que a TV
- Gabriel Portugal
- 1 de nov. de 2021
- 8 min de leitura
Atualizado: 15 de dez. de 2022
O streaming é mais antigo que a televisão? Mas, a melhor pergunta a se fazer é: como uma tecnologia tão atual pode ter surgido primeiro que a TV? Pega a visão e venha de carona com esse mergulho na história que iremos te contar.

A resposta para essa pergunta é simples: o streaming surgiu primeiro devido à genialidade de um norte americano chamado George Owen Squier, um ex veterano condecorado de guerra que, após sair das forças armadas, teve a ideia de criar um sistema de transmissão que não utilizava ondas de rádio, mas sim a transmissão e distribuição de sinais em linhas elétricas.
Squier, que era engenheiro, percebeu que poderia revolucionar o mercado fonográfico, utilizando técnicas que dispensavam as ondas sonoras e continham qualidade superior a das rádios.
Valendo-se de sua experiencia como militar, engenheiro e especialista em comunicações elétricas, ele decidiu criar uma metodologia inovadora, que contemplava um sinal mais limpo e sem os tradicionais ruídos de comunicação fonográficos da época.

GEORGE OWEN SQUIER
Mesmo após ter criado e patenteado esse sistema inovador, Squier não teve grande reconhecimento por parte dos empresários da indústria daquele período e, devido a essa situação, uma década depois de sua descoberta, entendendo que não poderia competir com as grandes empresas radiofônicas, Squier decidiu patentear um sistema de transmissão com qualidade e áudio superior à das emissoras existentes, focada em ambientes fechados, como restaurantes, bancos e, principalmente, elevadores.
Essa metodologia de negócio de Squier tornou-se um grande sucesso e fez com que empresários desses setores fizessem questão de procurá-lo para dispor da nova tecnologia que ele tinha implantado, pois, em sua grande maioria, os proprietários dos estabelecimentos nos quais Squier tinha implantado o sistema perceberam que a aceitação do público às músicas e aos grandes sucessos que eram regravados com qualidade acima das existentes estava contribuindo para o aumento de clientes nos estabelecimentos.
A empresa de George, que recebeu o nome de MUZAK, pode ser considerada como pioneira e uma das primeiras empresas de streamings do mundo, pois regravava grandes sucessos da música com qualidade superior e arranjos mais leves, numa época em que pouco se falava em direitos autorais e que a música era sinônimo de entretenimento para a grande maioria da população da década de 30.
Em síntese, em meio a toda essa tecnologia que vivenciamos atualmente, a revolução do streaming, além de acontecer antes da popularização da TV, se deu através da criação do primeiro streaming de áudio do mundo, e acredite: desde a década de 30, antes da popularização mundial da TV, a MUZAK existe até hoje e, mesmo após a morte de Squier, tem um grande valor histórico, numa época em que nem sonhávamos com a internet.

Mas, afinal, como podemos explicar que, mesmo surgindo primeiro, o streaming popularizou-se tempos depois da TV? A resposta é simples e objetiva: foi devido à ausência de tecnologia na época, pois, mesmo com a inovação proposta por Squier, a TV além de produzir imagens, contava com bastidores que envolviam tecnologias de transmissão que encantavam o público da época, devido a sua comunicação audiovisual e aos programas de rádio, que foram adaptados para TV, a exemplo dos de auditórios, músicas, e telenovelas, algo que atualmente podemos usufruir nos aplicativos de streaming, mas que nas décadas anteriores seu consumo era restrito somente as rádios e emissoras de televisão.
Num contexto histórico, a TV teve um papel gigantesco em termos de importância para a evolução dos ambientes multitelas, pois sua evolução desencadeou na criação de dispositivos cada vez menores, com destaque para os celulares que, mais tarde, evoluíram para os smartphones, que por sua vez receberam tecnologia o suficiente para abrigarem os aplicativos de streaming.
A questão é: como explicar que, mesmo tendo sido o pioneiro na criação do streaming, George O. Squier não é reconhecido como o patenteador e criador original dessa tecnologia?
E a resposta para essa questão é que: George, apesar de ser considerado o pai e o criador do streaming, patenteou na época o sistema de transmissão que ele havia criado, e não o streaming que conhecemos hoje como uma das principais plataformas de entretenimento do mundo. Mas como isso foi possível?

Como já foi abordado anteriormente, a tecnologia na década em que George patenteou seus sistemas de transmissão era bastante precária num ambiente onde a comunicação por telas era inimaginável e o entretenimento principal da época era a música.
Logo, quando patenteou seu sistema, Squier nem sequer imaginava que, com a evolução da tecnologia, seu sistema seria o pioneiro em transmissão com a ausência de ondas de rádio, e focou em patenteá-lo para o comércio exclusivo de jingles e trilhas sonoras personalizadas para ambientes com circulação de pessoas, com ênfase principal no elevador.
Naquele período, ouvir música no elevador, restaurante ou bancos era considerado uma grande inovação que, consequentemente, gerou muito lucro para a empresa de George, que além de e ser a única detentora de tal tecnologia, consequentemente era considerada a empresa fornecedora de um serviço exclusivo e inovador para aquele período.

Mas porque a MUZAK atualmente não é detentora dos direitos autorais de transmissões em streaming? A MUZAK ainda existe? A resposta é não, mas, antes de chegar na parte em que a MUZAK foi dissolvida, vamos contar mais sobre o motivo de ela poder ser considerada como a primeira empresa de streaming de áudio do mundo.
Para chegar lá temos que voltar um pouco no tempo. No início dos anos 30, a MUZAK que recebeu esse nome através da mistura das iniciais MUZ (de música) e AK (de KODAK), empresa na qual George era grande entusiasta, começou a comercializar músicas e áudios para clientes residenciais a um custo de US$ 1,50 por mês.
Nessa assinatura, os clientes tinham direito também a noticiários, e as assinaturas ficavam disponíveis em três canais separados. Além disso, a MUZAK, na época, contratava artistas para fazer releituras de grandes sucessos e distribuí-los aos seus assinantes.
A primeira foi um medley de três músicas pop executadas pela Sam Lanin Orchestra: "Whispering", "Do You Ever Think of Me?" e "Here in My Arms". Outra sessão inicial cobriu o sucesso de partituras de 1918, "Hindustan", dos compositores de Seattle Oliver G. Wallace (1887-1963) e Harold Weeks (1893-1967), porém, Squiel identificou que, apesar de seu sistema ter uma grande efetividade, o lucro com a distribuição para residências estava abaixo do esperado.
Foi então que ele decidiu distribuir seus sistemas de transmissão para empresas. Em 1934, após a morte de Squier, a MUZAK continuou no mercado, e decidiu ampliar seu sistema para um novo ramo, que tratava-se da transmissão de músicas para indústrias e manufaturas, sob o pretexto de que a música aumentava a motivação e o estimulo dos trabalhadores em suas tarefas, algo que foi comprovado através de pesquisas de jornais da época.

Com o crescimento da indústria e impulsionados pela valorização de seu setor, a MUZAK decidiu abrir franquias nos EUA em Washington, DC, Filadélfia, Boston, Detroit e Los Angeles.
Porém, em 1938, a Warner Brothers adquiriu a MUZAK para revendê-la a um trio de empresários, dentre eles, William Benton, que foi muito importante para o setor na época.
Com o advento da segunda guerra mundial, que impulsionou a indústria militar, os lucros da MUZAK aumentaram, devido ao uso da música nas fábricas e estaleiros militares.
Na década de 40 com o impulsionamento considerável de empresas do ramo de telecomunicações nos Estados Unidos, a MUZAK passou a estar presente em mais de 200 estabelecimentos norte americanos, com destaque para: o famoso restaurante de frutos do mar à beira-mar, Ivar's Acres Of Clams (Pier 54), o Tenney's Restaurant de Seattle (W McGraw Street e 34th Avenue W), o Continental Café (7th Avenue e Bell Street) e o novo shopping University Village, que anunciava seu "The Seattle Times , 1958).
Além de todos os seus feitos, a MUZAK foi pioneira na pesquisa de comportamentos do ser humano ao escutar determinadas músicas. Na década de 50, a empresa investiu em pesquisas para entender quais estímulos os tipos de músicas causavam nas pessoas.
A pesquisa quantitativa utilizou como laboratório as indústrias onde a MUZAK atuava. Após os estudos, a empresa identificou que, após o horário do almoço e entre as 15 e as 16 horas, era recomendado o uso de músicas mais agitadas, que fizessem com que os funcionários da produção tivessem uma sensação inconsciente de movimento.
Mais para a frente, esse estudo e outro que foi aplicado para acalmar os compradores atormentados foi uma revolução na psicologia do comportamento na música. Entendendo as atualizações e o crescimento do mercado da música por volta dos anos 60, a MUZAK decidiu gravar músicas em LPS sobre medida e, em 1969, ela começou a promover suas ofertas para novos clientes em potencial, com uma série de álbuns de vinil Stimulus Progression, que alegavam conter as "novas músicas mais populares e os padrões favoritos de todos os tempos”.

Essa nova metodologia da empresa de utilizar orquestras para gravar músicas em estúdio tornou-se algo revolucionário para o mercado fonográfico da época, que passou a contratar artistas desses segmentos para gravar em estúdio com grandes nomes do mercado da música.
Porém, apesar do sucesso e reconhecimento de sua marca por toda a América do Norte, a MUZAK ganhou concorrentes, que surgiram no mesmo segmento em que ela atuava, com destaque para a Yesco Inc. e a Audio Environments, Inc. (AEI).
A Yesco tinha a liderança de Mark Torrance, produtor que realizou trabalhos com artistas famosos da época, como Grateful Dead, e Jimi Hendrix.
Em 1968, Mark começou a fazer gravações de fundos musicais caseiros para comercializar em lojas de departamentos, com destaque para a cadeia de lojas Nordstrom e para desfiles de moda dos anos 70.
Pela primeira vez em sua história, a MUZAK ganhava um concorrente direto no mercado: a Yesco. Essa, por sua vez, entrou em recuperação judicial porque utilizou muitas músicas sem creditar o devido direito autoral.
Contudo, os donos da Yesco e da AEI juntaram-se para criar uma nova corporação: a AEI Music Network Inc. e Yesco Foreground Music.
Em 1972, a MUZAK foi vendida pela Wrather Corporation para Teleprompter Corporation, uma empresa de telecomunicações que adquiriu um satélite e transformou o sinal da MUZAK em FM.
Nesse novo cenário, a empresa chegou a atingir mais de 80 milhões de pessoas ao redor do mundo, mas acabou sendo vendida para a Westinghouse Electric Corporation, detentora do Group W Radio, e sofreu um grande desfalque ao ter que negociar direitos autorais de músicas com sua principal concorrente, a Yesco, que havia conseguido o licenciamento com as gravadoras.
Esse movimento permitiu que a MUZAK lançasse seu próprio programa de artista original, chamado "Foreground Music One". Em 1986, a Field Corporation editora do Chicago Suns, adquiriu a MUZAK e fundiu a empresa com a Yesco, o que inicialmente criou uma irritação interna, pois a Yesco tinha adquirido, antes da junção, uma das mais lucrativas contas da MUZAK, a Nordstrom, sua principal e mais lucrativa conta do Noroeste.
No entanto, a sede da empresa mais antiga foi transferida para Seattle (915 Yale Avenue N), onde Mark Torrance, da Yesco, começou a atuar como presidente do grupo.
Em meio as essas mudanças administrativas, a empresa chegou a mudar de sede três vezes. Todavia, em 2009, com o advento da internet e das novas tecnologias, a MUZAK, que chegou a ser uma das empresas com a maior quantidade de clientes no mundo, entrou com um pedido de recuperação judicial (por motivos de: falência).
Entretanto, pouco tempo depois, conseguiu se reestruturar até ser adquirida pela Mood Media Corp, de Toronto, que distribuía músicas de espera e produtos integrados para marketing móvel. A mood existe até os dias atuais.
Curiosidades:
Se a Warner Bros não tivesse revendido a MUZAK, ela poderia ter exigido seu direito de detentora de royalties sobre streamings de música.

Apesar de todos as suas realizações, incluindo a criação do streaming, George O. Squier é pouco reconhecido pela nova geração por seus feitos.
Gostou dessa publicação? O que achou de toda essa história? Você sabia de todos esses detalhes? Comenta aí embaixo para sabermos mais sobre tudo isso, afinal, conhecimento nunca é demais. Até a próxima!
Comments